
Poucas pessoas sabem da origem macabra dos contos de fadas. Longe de serem histórias de ninar com finais felizes, essas histórias tão conhecidas de todos nós tiveram origem, algumas delas pelo menos, há milhares de anos, e deixariam as criancinhas que as escutassem, morrendo de medo e pavor.
Muito antes de terem suas primeiras versões escritas, lá pelo século XVII, muitas das histórias infantis já tinham uma longa tradição oral, que passava de geração para geração, e eram em sua maioria contos para adultos, cheios de temas que refletiam a violência e brutalidade daqueles tempos remotos, tais como estupro, canibalismo, pedofilia e incesto. Já na era dos desenhos animados da Disney, muita coisa foi suavizada para agradar e alegrar o público infantil, sempre ansioso para ouvir no final o “... e viveram felizes para sempre.”
Nas primeiras versões de Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, não há um lenhador que chega e abre a barriga do lobo, salvando a Vovozinha e Chapeuzinho. A menina é enganada pelo Lobo, vai até a casa da Vovó, e ao chegar é devorada pelo vilão, sem maiores cerimônias. A história acaba assim!!
Não apenas finais tristes, algumas histórias contam com requintes de perversidade, como é o caso da Bela Adormecida. Ao encontrá-la em coma, o príncipe mantém relações com ela, o que acaba originando uma gravidez. Nove meses depois, ainda em coma, a princesa dá a luz a gêmeos. Um deles, ao procurar pelo leite da mãe, acaba sugando um dos dedos desta e com isso extraindo acidentalmente o espinho que a tinha feito adormecer, quebrando assim o encanto.
Ao invés de românticas ou nobres, as atitudes dos personagens demonstram muito bem o contexto social da época em que foram elaborados. Pode-se perceber que, assim como certos costumes e regras sociais foram se modificando ao longo dos tempos, também as histórias foram sofrendo alterações, de modo a se adequarem aos padrões socialmente aceitáveis.
Na conhecida história do Flautista Mágico, temos uma cidade infestada por nojentos roedores, que concorda em pagar uma alta soma em dinheiro se o flautista conseguir espantar os ratos. Ele toca sua flauta mágica e os bichos saem mesmo da cidade, como que hipnotizados. Ao voltar para receber o pagamento, os dirigentes do vilarejo não querem mais pagar, fogem do acordo. Ele então toca outra música, levando todas as crianças pra fora da cidade e colocando-as numa caverna, até que finalmente a cidade decide pagar a conta, e ele então devolve as crianças.
Numa versão ainda mais antiga e cruel, o flautista faz as crianças se dirigirem a um penhasco imenso e de lá se jogarem nas águas turbulentas de um rio, onde todos morrem. Alguns estudiosos de literatura e folclore universal dizem haver traços do comportamento de um pedófilo nas atitudes do flautista.
Quando se começa a pesquisar sobre as origens dos contos de fadas, abre-se um enorme leque de caminhos e possibilidades, e acabamos descobrindo às vezes 30 ou mais versões diferentes para uma mesma história, dependendo dos costumes do povo que a produziu numa determinada época. Na versão chinesa de Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, temos um tigre ao invés do lobo; no Irã, onde meninas não podem sair sozinhas por aí, o personagem é um menino, e assim por diante...Interessante, não é mesmo?




